Quando o Japão colocou o regulamento debaixo do braço e mesmo perdendo para a Polônia, na última rodada da fase de grupos, resolveu cozinhar o jogo nos últimos minutos – eis que classificado estava pelo critério do fair play – muita gente se perguntou, em um tom inconfesso (e inexplicável) de crítica: “O Japão perdeu a ingenuidade no futebol?”
Seis minutos do segundo tempo em Rostov e o placar está marcando 2 a 0 para o Japão contra a favorita Bélgica, que não perdia uma partida há 22 jogos. A terceira seleção do ranking da FIFA, antes da Copa, sendo aniquilada pelo 61º colocado. Surpresa mundial, até mesmo para os japoneses.
O técnico da seleção belga mexe os seus pauzinhos e aposta na bola aérea. O treinador do Japão, incrédulo com o resultado, demora a perceber. Bélgica chega ao empate, aos 28 minutos. Mas tem muito jogo pela frente.
A partida vai caminhando para a prorrogação, o que já seria um grande feito para o desacreditado Japão. Quem sabe alcançar e vencer a sempre imprevisível disputa por pênaltis e desfrutar de uma inédita classificação para as quartas de final de um Mundial?
No último minuto, todavia, uma decisão equivocada – com flagrante dose de ingenuidade – e o placar volta à normalidade inicialmente prevista. Os japoneses se mandam para a área adversária na cobrança de escanteio e entregam de presente um contra-ataque fulminante que acabou no gol da vitória dos Diabos Vermelhos. E Silvio Sano, cuja motivação para essa Copa possui razões que a razão dos outros desconhece, não quis deixar o lance sem registro! E comentando, claro!
Fim de jogo e de sonho para os Samurais Azuis. E o Japão? Quanta ironia! A mesma ingenuidade, quando perdida, os colocou nas oitavas e, dias depois, renasceu para tirá-los das quartas…
Por outro lado, a história mostra que em Copa do Mundo não há verdades que não possam ser desmentidas pelo imponderável, em fração de segundos. Mesmo assim, frases feitas quando o árbitro apita o final da partida, sempre vão existir.
Tivesse acabado a peleja com uma vitória do Japão e todos nós ouviríamos os comentaristas do pós-jogo sacramentando: “Não há mais bobo no futebol!”