Conjunção Condicional

A Copa de 2018 chegou ao seu final e, para mim, ficou o gosto amargo com uma Seleção Brasileira que merecia ter levantado o tão desejado troféu pela sexta vez. Sem querer colocar o viés do torcedor acima da racionalidade, não vi em nenhuma das quatro seleções que chegaram à fase decisiva qualidades que as colocassem em patamar técnico superior àquele apresentado pelo Brasil. É uma questão de opinião, simples assim.

Talvez por conta do “Campeões para Sempre”, muita gente, depois da partida contra a Bélgica, me pediu uma avaliação sobre o resultado e a nossa eliminação. E, invariavelmente, aqueles que o fizeram ficaram surpresos – ou até mesmo decepcionados – com o meu ponto de vista.

Porque, com toda a sinceridade, e por mais que me esforce, não consigo ver a responsabilidade de Neymar na derrota, nem de Paulinho, muito menos de Tite. Há uma máxima no esporte que diz que os derrotados procuram justificativas, enquanto os vencedores comemoram. No Brasil, entretanto, a voz corrente, de uma forma geral, vai além, e para as  derrotas do futebol não bastam explicações. Há uma sanha em se buscar culpados. Bem verdade, também, que desta vez ela foi muito mais velada – “não vamos fazer terra arrasada da derrota”, foi o mantra muito ouvido.

Mas com o passar dos dias, e ainda sob o efeito da ressaca, hipóteses e teorias das mais diversas foram esmiuçadas, sempre com o intuito oculto de, ao final, encontrar os verdadeiros responsáveis pela derrota. E aí ficamos lendo sobre o “nó tático aplicado pelo técnico da Bélgica”, da “teimosia de Tite em manter Gabriel Jesus no time titular”, da “sina de Fernandinho em falhar nos momentos cruciais” e, claro, nem é preciso desfiar, todos os porquês associados a Neymar, seu cabelo, suas quedas, suas rolagens, suas redes sociais e seu silêncio na zona mista ao final do jogo pelas quartas de final.

Aqueles que tiveram a oportunidade de ler um pouco de “Campeões para Sempre” sabem que não sou um analista do futebol, tampouco um expert em estratégia e disposição tática. Muito menos um futurólogo, apesar da brincadeira em relação às coincidências em relação à Copa de 1958 e a “previsão” de que o hexa estava ganho, em um post anterior…

Contudo, o que me marcou, durante a coletiva pós-jogo, foi a intervenção do mestre Juca Kfouri, enfatizando um aspecto que muitos se recusam a enxergar, após uma partida de futebol: o aleatório. Juca lembrou ao técnico brasileiro, muito mais lhe dando um sincero apoio que o entrevistando, sobre a bola de Thiago Silva que acertou a trave, nos primeiros minutos de jogo, a infelicidade de Fernandinho no gol contra e as inúmeras oportunidades em que a bola simplesmente se recusou a balançar as redes belgas. Para mim, a visão mais racional, sintética e crua do que, de fato, aconteceu no estádio de Kazan.

Tivesse aquela bola saído da coxa do defensor brasileiro para o fundo do arco da Bélgica e nós teríamos tido um jogo completamente diferente. Provavelmente com um placar que nos levaria às semifinais. De pouco adiantaria a “arrasadora escalação-surpresa” armada pelo treinador Roberto Martínez. Tivesse a bola batido no peito do Fernandinho e não em seu braço, e talvez Neymar teria erguido a Taça FIFA no domingo moscovita. Tivesse Renato Augusto ou Coutinho empatado a partida no final do segundo tempo e ninguém estaria criticando o fato do Fred não ter sido cortado – ou, pior, Taison ter sido convocado!

Tivesse a Bélgica todo esse futebol avassalador de De Bruyne, Hazard e Lukaku, e não teriam os Diabos Vermelhos parado no pragmatismo francês, restando a eles o consolo de um terceiro lugar e a frustração de uma camisa que continuará sem estrelas – enquanto a nossa terá para sempre ao menos cinco.  Porque, queiram ou não, esse é o futebol do mata-mata, quase sempre vencido pelo Imponderável Futebol Clube.

Deu França. E Silvio Sano se despede desse Mundial registrando um gol da… Croácia, claro! Que Mbappé, que nada. Aliás, verdade seja dita, os croatas lutaram como gigantes ao longo de toda a partida. Até tomarem dois gols dos azuis em, convenhamos, defensáveis chutes de fora da área. Viaje um pouco e  imagine se o jogo ainda estivesse em 2 a 1 e esse gol, agora ilustrado, tivesse empatado a partida e mudado para sempre o resultado da final. Se assim tivesse sido, Lloris não poderia atravessar a Champs Elisées pelo resto da vida. Seria o Barbosa deles, versão gaulesa, porém com total culpa, pompa e responsabilidade, ao contrário do nosso arqueiro de 1950. Se assim tivesse sido. Se.

Mas… “se” é conjunção subordinativa condicional, não existe no futebol e não se escreve na história das Copas do Mundo.

Que não tarde a chegar 2022!

 

 

Post Author: infogol

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *